Arte & manhas | Oralituras, uma palavra bem especial

Não a conhecia, até a cantora Maria Bethânia ser eleita para a Academia Baiana de letras. Oralituras é um conceito elaborado por Leda Maria Martins para designar histórias e saberes ancestrais transmitidos não apenas através da literatura, mas também em manifestações performáticas da cultura popular.

Leda foi professora na Universidade Federal de Ouro Preto e na Faculdade de Letras da UFMG de 1993 a 2018, exercendo cargos de direção nas duas universidades. A palavra oralituras também não fazia parte do meu vocabulário até a indicação de Maria Bethânia à Academia de Letras da Bahia.

Embora não seja uma literata, Bethânia é uma das melhores intérpretes de poemas que este mundo já viu ou ouviu. Suas interpretações de Fernando Pessoa, de seu irmão Caetano, de Chico Buarque, principalmente, comovem até mesmo as almas mais resistentes.

Até pouco tempo, eu me debatia contra essa ideia de que as academias de letras pudessem aceitar não escritores. Mudei de opinião: as academias devem acatar todos aqueles que podem acrescentar sabedoria ao povo; seja através da voz, do discurso ou da escrita.

A partir desta data Leda Maria Martins e Maria Bethânia, adicionaram ao meu vocabulário a palavra “oralituras”, que nós, diante dela, que às vezes nos julgamos mais letrados e inteligentes, ficamos feito paspalhos, e não entendemos o significado, embora o termo esteja em dicionários.

Precisamos ter cuidado ao usar as palavras. As oralituras são capazes de nos transmitir mais conhecimento do que uma imersão literária. Às vezes, uma simples canção nos toca mais a alma do que um livro de 400 páginas.

Bethânia tem este talento e esta condição. Tem a sensibilidade de garimpar textos e de interpretá-los de forma viril e feroz; porém, com voz doce: como o mel de uma abelha rainha.